domingo, julho 30, 2006

36) A etapa superior do patrimonialismo

Uma pequena análise de Cesar Maia, em seu "ex-Blog", em 30/07/2006:

A ETAPA SUPERIOR DO PATRIMONIALISMO!

O caso dos sanguessugas que naturalmente focaliza os políticos corruptos -no legislativo e no executivo- é um prato cheio e pronto para os cientistas políticos que estudam o patrimonialismo no Brasil. Até aqui se conhecia bem os lobbies e respectivas comissões, que levavam empreiteiros e forncedores a terem favores nos órgãos públicos. Lembrem-se da famosa frase de Simonsen quando propôs o PRO-LOBBY.

Dizia que, para os cofres públicos, era preferível pagar a comissão e não fazer a obra. Agora temos exemplos de patrimonialismo que estrutura os empresários corruptores -lobistas digamos- deputados e o executivo, através do orçamento, e de forma massiva e não individual. Emendas no orçamento a pedido de empresários, dizendo que resolveriam no executivo, é fato conhecido, aqui
e alhures. Mas emendas de dezenas de parlamentares articuladas por uma empresa, abertas por senhas, articuladas com o gabinete do ministro -e não apenas com um órgão- é o aperfeiçoamento do patrimonialismo a grau raramente visto. Quem sabe nunca!

O caso da valerioduto é exatamente igual do ponto de vista conceitual. Só que é um patrimonialismo do terceiro milênio pois se deu na área de publicidade e incluiu um novo ator: um partido político -o PT- como tal. O elemento condutor é o mesmo: nos
sanguessugas a Casa Civil só autorizava descontigenciar as emendas contra o voto; no valerioduto da mesma forma, com a publicidade numa ponta e os mensaleiros na outra. Mais sutil pois não havia a interveniência orçamentária aberta e focalizada. Mas irmão de mesmo casamento. É uma das heranças do governo Lula: o aperfeiçoamento do patrimonialismo. E era -e é- esse mesmo patrimonialismo a pedra de toque da esquerda nas suas críticas do Estado.