domingo, outubro 22, 2006

82) Como deve ser dificil reformar um pais,contra a vontade do povo...

Não custa nada lembrar certos fatos indesejáveis e uma atitude ainda menos compreensiva dos eleitores e cidadãos...

Eleitor rejeita elevação da idade para aposentadoria
Jornal Valor Econômico - pág. A10
Cristiano Romero
08/09/2006

No momento em que especialistas apontam para a necessidade de aprofundamento de reformas fiscais, com o objetivo de acelerar as taxas de crescimento da economia brasileira, os eleitores dos três principais candidatos à presidência da República demonstram pouca disposição em apoiar novas mudanças. A quinta rodada da pesquisa telefônica feita pelo Ipespe junto a mil eleitores, no último dia 6, constatou que 88% rejeitam o aumento da idade exigida para aposentadoria e 80% não aprovam o fim da gratuidade nas universidades públicas. Apenas 9% concordam com a mudança de idade e 11% com o fim da gratuidade.

Está entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a menor resistência a mudanças nas regras das aposentadorias, como uma forma de redução dos gastos públicos - 11%, diante de 8% dos eleitores do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência, e de 7% da senadora Heloísa Helena, candidata do P-SOL. Lula também possui mais eleitores, segundo a pesquisa Ipespe/Valor, favoráveis ao fim da gratuidade nas universidades - 13%, face, respectivamente, a 9% de Alckmin e 6% de Helena.

"Há um rechaço claro dos eleitores ao aprofundamento das reformas", concluiu o diretor do Ipespe, o cientista político Antônio Lavareda. Em enquetes anteriores, constatou-se que a população está mais favorável, neste momento, a reformas fora da área econômica, notadamente, à reforma política e ao endurecimento das leis penais.

Se, por um lado, estão pouco receptivos a novas reformas econômicas, os eleitores demonstram, por outro, saturação em relação ao aumento de impostos. Os pesquisadores do Ipespe perguntaram se, para equilibrar as finanças públicas, o governo federal deveria fazer cortes no orçamento ou elevar os impostos. A maioria absoluta - 80% dos entrevistados - ficou com a primeira opção. Curiosamente, o maior percentual de defensores de corte dos gastos está entre os eleitores da senadora Heloísa Helena - 94%, diante de 85% de Alckmin e 81% de Lula.

Quando questionados sobre as áreas que devem sofrer mais cortes de gastos, quase 1/3 dos eleitores (29%) defenderam que seja nos salários do funcionalismo público e 17% na construção e manutenção de estradas. Novamente, está entre os simpatizantes da candidata do P-SOL, uma defensora ferrenha dos servidores públicos, o maior número de pessoas favoráveis à redução de gastos com o funcionalismo - 38%, face a 37% dos eleitores de Alckmin e 24% de Lula.

A percepção de que a economia está melhor hoje do que há quatro anos aumentou em relação à pesquisa anterior, feita em 29 de agosto - passou de 53% para 56% dos entrevistados. Melhorou de forma acentuada em relação à primeira rodada, realizada em 25 de julho, quando 45% da população elogiaram o desempenho da economia. O saldo entre aqueles que dizem que a economia melhorou e os que afirmam que piorou pulou de 23 para 36 pontos percentuais.

Entre os eleitores de Alckmin, 57% acham que a economia está melhor ou igual. Entre os de Heloísa Helena, 62% têm essa opinião. Pela primeira vez, solicitou-se ao eleitor que comparasse a situação econômica no governo Lula com a do governo Fernando Henrique Cardoso. "Tivemos o mesmo resultado de quando FHC não era mencionado", informou Lavareda.

A pesquisa mostra também que diminuiu, de 46% para 44%, o percentual de eleitores que consideram sua situação financeira pessoal agora melhor do que há quatro anos. Ocorre que o número de pessoas afirmando que piorou diminuiu de 24% para 22%. Tudo isso ratifica, na avaliação de Lavareda, que é no terreno da economia que está se dando o processo de escolha dos eleitores em favor de Lula. Mesmo a exploração, pelo candidato tucano, do fato de que o Brasil cresceu menos nos últimos anos do que outros países não está surtindo efeito junto ao eleitorado.

Segundo a pesquisa do Ipespe, 46% dos eleitores de Alckmin acham que a economia brasileira cresceu tanto ou mais do que outras economias. Isso é mais do que os 40% que acreditam que cresceu menos. Trinta e um por cento dos eleitores de Alckmin aprovam a gestão de Lula na área econômica. "É a economia que está levando a água para o moinho das intenções de voto de Lula", disse Lavareda.

Quanto às intenções de voto, a 5ª pesquisa Ipespe/Valor mostra estabilidade em relação à enquete anterior. Na pesquisa espontânea, Lula tem os mesmos 41% de intenções de voto, face a 19% de Alckmin (que cresceu um ponto percentual) e a 5% de Heloísa Helena. Na pesquisa estimulada, Lula lidera com 49%, percentual que lhe daria a vitória no primeiro turno da eleição, seguido por Alckmin com 28% (alta de 1%) e Helena com 8% (queda de 1%). O candidato do PDT, senador Cristovam Buarque, que antes tinha 1%, agora caiu para zero.

De acordo com a pesquisa, 32% de seus eleitores dizem que ainda podem mudar de candidato. Como Lula tem 49% das intenções de votos na pesquisa estimulada, isso representa quase 16% dos eleitores.

A consolidação do voto petista é inferior ao do voto tucano. À pergunta se a opção de voto seria definitiva, 74% dos eleitores de Alckmin responderam que sim, enquanto entre os eleitores de Lula este patamar foi de 67%

O terceiro aspecto ruim para o candidato petista é que a decisão de Alckmin de explorar as denúncias do mensalão estão produzindo efeitos, ainda que limitados. Para 40% dos entrevistados, as denúncias diminuem a vontade de votar em Lula.

"Isso justifica a manutenção da artilharia de Alckmin contra Lula", comentou Lavareda. A pesquisa, por outro lado, mostra que 81% dos eleitores do Lula não mudarão seu voto em função das denúncias do mensalão. Se, para crescer, Alckmin precisa tirar votos do presidente, a pesquisa mostra um alcance limitado das denúncias do mensalão.

Ele lembrou que as intenções de voto pouco têm a ver com as propostas dos candidatos. De fato, segundo a pesquisa, Lula e Alckmin têm praticamente o mesmo percentual de eleitores que consideram suas propostas as melhores para o país - respectivamente, 33% e 31%.