42) Vossa Excelencia é um gatuno? Imagine...
Servico de utilidade pública: descubra se o seu candidato é um ladrão, simples larápio, um perigoso meliante...
Esta matéria, da newsletter NO Mínimo (Notícia e Opinião), de 4 de agosto de 2006, informa como se informar (no Transparência Brasil) se o seu candidato tem informacoes privilegiadas sobre formas de fazer dinheiro nascer em árvores, por exemplo, ou aparecere misteriosamente embaixo do colchão...
Incrível a quantidade de nobres colegas que não confiam no sistema bancário, preferindo o velho sistema do troca-troca, isto é, troca um favor aqui, por um pacote de verdinhas aqui e ali...
A ficha corrida de suas excelências
Luiz Antônio Ryff
NO Mínimo, 04.08.2006
Quando alguém está para ser contratado, a primeira coisa que se levanta são as suas referências e antecedentes. A atual legislatura mostra que nem sempre há o mesmo cuidado ao escolher nossos representantes políticos. Mas um novo site promete facilitar a vida dos eleitores que desejam controlar de perto a qualidade de seus parlamentares. Com ele, vai ser possível saber se um candidato à Câmara dos Deputados merece o seu voto. Ou se merece outra coisa.
O braço brasileiro da ONG Transparência Internacional resolveu aproveitar as possibilidades da internet para reunir em um só lugar informações importantes de domínio público que habitualmente ficam dispersas em vários lugares. Agora, bastam uns poucos cliques no mouse para qualquer um saber se um determinado candidato responde a processo na Justiça ou se está envolvido em algum escândalo. Assim é mais fácil separar o joio do trigo, sem cair naquela velha ladainha de que político é tudo igual. Não é. E o site mostra isso.
O projeto se chama “Excelências” e traz informações relevantes sobre os principais candidatos à Câmara dos Deputados nas eleições deste ano. A listagem inclui todos os postulantes à reeleição, ex-ministros, ex-governadores, ex-senadores e ex-prefeitos de capitais. Ou seja, os candidatos com uma carreira pública mais extensa.
Os quesitos são abrangentes o suficiente para que alguns pesos-pesados da política nacional sejam “fichados” no site. Em São Paulo, por exemplo, o ex-ministro Antonio Palocci (PT), o ex-governador Paulo Maluf (PP), o ex-prefeito Celso Pitta (PTB), o ex-presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-presidente do PT, José Genoíno, estão na lista.
Depois de tantos escândalos envolvendo a atual legislatura, as informações ajudam a perceber que nem tudo está perdido. “Há vários políticos com a ficha limpa", afirma o jornalista Marcelo Soares, coordenador do projeto. Ele próprio, no entanto, faz a ressalva: "Ou pelo menos que não têm nada que a gente tenha conseguido encontrar”. Com efeito, na primeira leva de 150 analisados, 82 candidatos não estão envolvidos em escândalos nem respondem a processos. Embora isso não signifique um atestado de idoneidade, já é um bom sinal.
No outro lado, 68 candidatos têm algo a macular suas fichas. O diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, Cláudio Abramo, diz que uma das curiosidades percebidas no levantamento é que, na maioria das vezes, um político que responde a um processo acaba respondendo a outros. “Quando é réu por uma coisa, normalmente é por outras também. É difícil ter um processo apenas. Vira contumaz.”
No site, o eleitor encontra uma ficha com os dados e um pequeno perfil de cada político. É possível saber se os candidatos respondem a processos no Supremo Tribunal Federal ou em segunda instância nos Tribunais de Justiça; se há pendências nos Tribunais de Contas dos Estados ou na Procuradoria Geral Eleitoral.
Quem foi candidato nas últimas duas eleições (em 2002 e 2004) tem o registro do número de votos, onde ficam seus redutos eleitorais e as informações sobre financiamento de campanha. Dá para saber que empresas ou pessoas deram dinheiro para os candidatos. Na consulta, é possível descobrir que a Embraer foi uma das empresas que ajudou a eleger, em 2002, a deputada federal Ângela Guadagnin (PT-SP), aquela ganhou notoriedade nacional após comemorar com a “Dança da Pizza” a absolvição de seu colega de bancada, João Magno, envolvido no escândalo no Mensalão. Serve como uma curiosidade.
Talvez seja mais importante saber que o deputado federal Fernando Estima, do PPS – que assumiu no ano passado como suplente na vaga aberta com a renúncia de Valdemar Costa Neto (então presidente nacional do PL) – teve como doadores de sua campanha dois ex-governadores de São Paulo, Orestes Quércia (PMDB) e Paulo Maluf (PP). Não é surpreendente saber que um político, candidato do ex-partido comunista, conseguiu receber dinheiro de Quércia e de Maluf ao mesmo tempo?
E embora tenha iniciado sua carreira como deputado apenas no ano passado, Estima já está em maus lençóis. Seu nome está envolvido no escândalo da máfia dos Sanguessugas, que fraudava preços na compra de ambulâncias. A informação também está no site “Excelências”.
Aliás, como falcatruas mais recentes não tiveram ainda seguimento na Justiça, há uma seção chamada “Deu no Jornal”. Foi a forma encontrada para informar se um candidato foi personagem de algum escândalo noticiado pela imprensa. Assim, políticos citados como envolvidos com a máfia dos Sanguessugas, por exemplo, têm destaque assegurado. Os do Mensalão também.
Além disso, há dados mais básicos, relacionados à atuação parlamentar, como a relação de projetos aprovados, as emendas de liberação de verbas, o número de faltas e como votaram (esse ainda pouco útil, já que não cita as situações específicas). Há também a declaração de bens dos candidatos.
A relação não contempla todos aqueles que disputam uma vaga na Câmara dos Deputados. “Se fossem todos, teríamos que trabalhar com 5.206 candidatos", afirma Cláudio Abramo. "Não tínhamos condição de fazer. É uma pena.” Ficaram aqueles com “mais estrada”. O banco de dados está sendo montado aos poucos. Inicialmente foram contemplados os candidatos de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal _ que reúnem quase 50% do eleitorado nacional. Bahia e Rio Grande do Sul entram ainda esta semana.
Inicialmente o nome do site seria “ficha corrida”. Para evitar contestação judicial, a opção foi descartada em prol do irônico “Excelências”, alusão à forma de tratamento usada entre os deputados. Embora nem sempre alguns estejam à altura dela.
Infelizmente, não há algo semelhante que permita conhecer melhor nem os candidatos ao Senado Federal, nem aos governos de Estado, nem às Assembléias Legislativas, nem à Presidência. Mas o que existe já é um ótimo começo.
ryff@nominimo.com.br
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