quarta-feira, agosto 23, 2006

55) Promessas vazias?: aposta da candidata HH

Jornal Zero Hora, 23 de agosto de 2006
O que há de viável no que ela promete
CAROLINA BAHIA/ Agência RBS/Brasília

Sensação das pesquisas eleitorais, é com a imagem de guerreira indignada que a senadora Heloísa Helena, do P-Sol conquistou grande parcela de simpatia junto ao eleitorado. Até chegar ao Palácio do Planalto, porém, o caminho é longo. Se essa alagoana arretada conseguisse a proeza de assumir a cadeira de presidente da República teria pela frente o desafio de tirar difíceis promessas do papel. De acordo com especialistas consultados por Zero Hora, algumas das ações só seriam viáveis sob o jugo de um governo autoritário.

As propostas de Heloísa Helena

- Reforma agrária
Heloísa Helena:
"Vou fazer a reforma que ninguém fez. Vou assentar 1 milhão de famílias."

A análise
Ivaldo Gehlen, professor de Sociologia da UFRGS:
"A promessa de Lula, em 2002, também era assentar 1 milhão de famílias. Mas logo no primeiro ano de governo, baixou a meta para 400 mil. É uma promessa de difícil execução. A possibilidade é remota. Um assentado custa entre R$ 20 mil a R$ 30 mil. Seriam necessários R$ 30 bilhões para cumprir essa meta. Além disso, ela enfrentaria resistência do Congresso e de outras áreas, que apresentam suas demandas sociais."

- Política econômica
Heloísa Helena:
"É essencial aumentar os investimentos em saúde, com a redução da taxa de juros, o combate à corrupção e a extinção da Desvinculação dos Recursos da União (DRU), que saqueia mais de 20% da CPMF e da Previdência Social."

A análise
Raul Velloso, economista e especialista em contas públicas:
"A extinção da DRU, que permite ao governo utilizar recursos com maior liberdade orçamentária, seria um desastre. Sem a DRU, o governo teria de emitir dívida para conseguir pagar os funcionários e fechar o Orçamento da União."

- Banco Central:
Heloísa Helena:
"Meu Banco Central será autônomo, sem depender do sistema financeiro."

A análise
Raul Velloso, economista:
"O Banco Central não depende do sistema financeiro. É o regulador do sistema. Além disso, o problema da Saúde no Brasil não é de montante de recursos, mas a forma como o dinheiro é investido."

- Juros
Heloísa Helena:
"Não pretendo baixar os juros por decreto. Se eu quisesse, como presidente poderia fazê-lo, mas não vou precisar, porque quem estará no Conselho Monetário Nacional não serão os sabotadores do crescimento do país."

A análise
Raul Velloso, economista:
"Ela está errando o alvo. O Conselho Monetário Nacional se reúne algumas vezes ao ano. Cabe a ele, por exemplo, definir a meta de inflação. Mas não é isso que prejudica o crescimento do país. É a política de governo."

Murilo de Aragão, analista político:
"As taxas de juros dependem de fatores que não estão sob controle do presidente. O governo pode até determinar a redução e não ser aceito pelo mercado. Antes, ela tem que dizer como melhorar o perfil da dívida brasileira."

- educação
Heloísa Helena disse que uma de suas propostas é aumentar para R$ 10 bilhões os recursos do Fundo da educação Básica.

A análise
Célio da Cunha, especialista em educação da Unesco:
"A Unesco luta pela ampliação dos recursos para educação e considera que todas as propostas neste sentido merecem aplauso. O que também é necessário fazer hoje no Brasil é estabelecer as metas necessárias para toda a cadeia de ensino. Com essas metas, estabelecer um planejamento."

- Segurança
A senadora Heloísa Helena propôs que o governo federal coordene um pacto federativo para encontrar soluções para a segurança pública: "O problema da segurança pública é muito mais pela covardia do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional, que não aprovam o pacote antiviolência", referindo ao conjunto de medidas que endurecem as penas de detentos, em tramitação na Câmara.

A análise
Rodrigo de Azevedo, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUCRS:

"O pacto federativo é importante, mas já faz parte do Plano de Segurança Nacional desde o governo Fernando Henrique. O programa está implementado de forma parcial. A participação dos municípios, por exemplo, é essencial. A idéia de aprovar um pacote de forma emergencial, que crie leis de afogadilho, gera efeitos mais nefastos do que a não-aplicação. Acaba não tendo efeito sobre os delitos."

- Déficit habitacional
"Na Presidência vou fazer um plano que terá por ambição resolver o déficit de 7 milhões de moradias no país."

A análise
Marta Romero, professora do Departamento de Tecnologia da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB:
"Dizer que vai eliminar o déficit habitacional virou chavão. Ela demonstra boa intenção ao fixar um valor para investimento. No caso da habitação, o problema não é o dinheiro, mas como esse recurso será aplicado. O déficit habitacional hoje, no Brasil, é de cerca de 5 milhões de moradias. Tem que dizer como isso será realizado. É essencial o envolvimento da construção civil e da sociedade."

terça-feira, agosto 22, 2006

54) Turismo presidencial

Da coluna diaria de Joelmir Beting (15/08/2006):

"Até aqui, em 40 meses de governo, o presidente Lula já cometeu 102 viagens ao mundo. Ou mais de duas por mês, tal como semana sim, semana não.

Sem contar, ora pois, as até aqui, 283 viagens pelo Brasil.
Hoje, dia 15, ele completa 382 dias fora do país desde a posse. E pelo Brasil, no mesmo período, 602 dias fora de Brasília.
Total da itinerância presidencial, caso único no mundo e na História: exatos 984 dias fora do Palácio, em exatos 1.201 dias de presidência. Equivale a 81,9% do seu mandato fora do seu gabinete.
Esta é a defesa da tese de que ele não sabia e nem sabe de nada do que acontece no Palácio do Planalto.

Governar ou despachar, nem pensar. A ordem é circular.
A qualquer pretexto. E sendo aqui deselegante, digo que o presidente não é (nem nunca foi) chegado ao batente, ao despacho, ao expediente.
Jamais poderá mourejar no gabinete, dez horas por dia, um simpático mandatário que tem na biografia o nunca ter se sentado à mesa nem para estudar, que dirá para trabalhar."

Joelmir Beting

domingo, agosto 20, 2006

53) Um simples poema, que expressa o momento...apenas o momento...

A implosão da mentira (Por Affonso Romano de Sant´Anna)

"Mentiram-me.Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem sobretudo impunemente.
Não mentem tristes, alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente
que acho que mentindo história a fora
vão enganar a morte eternamente.

Mentem, mentem e calam mas nas frases falam
e desfilam de tal modo nuas
que mesmo o cego pode ver a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura,
mas não se chega à verdade pela mentira
nem à democracia pela ditadura.

Evidentemente crer que uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo permanentemente.

Mentem, mentem caricaturalmente,
mentem como a careca mente ao pente,
mentem como a dentadura mente ao dente
mentem como a carroça à besta em frente,
mentem como a doença ao doente,
mentem como o espelho transparente
mentem deslavadamente c
omo nenhuma lavadeira mente ao ver a nódoa sobre o rio
mentem com a cara limpa e na mão o sangue quente,
mentem ardentemente como doente nos seus instantes de febre,
mentem fabulosamente
como o caçador que quer passar gato por lebre
e nessa pilha de mentiras a caça é que caça o caçador
e assim cada qual mente indubitavelmente.

Mentem partidariamente,
mentem incrivelmente,
mentem tropicalmente,
mentem hereditariamente,
mentem, mentem e de tanto mentir tão bravamente
constróem um país de mentiras diariamente."